quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Do filme-catástrofe 'ecológico' ao documentário ambientalista


"O espectáculo costumava ter o primado sobre a "mensagem" nos filmes sobre catástrofes ecológicas. Mas a ficção foi substituída pela realidade, e assistimos nos últimos anos ao advento do documentário de denúncia e intervenção sobre o ambiente


O cinema sempre gostou de catástrofes, porque fotografam bem, emocionam ainda mais e há sempre quem se salve no fim. O chamado filme-catástrofe (ou disaster movie) tem no filme-catástrofe ecológico uma das suas subcategorias mais activas, muito embora, e quase sempre, o espectáculo tenha o primado sobre a "mensagem" ambientalista, pendurada às três pancadas.

Num dos mais consensualmente ridículos filmes do género, O Enxame, de Irwin Allen (1978), o tema da perturbação do habitat das abelhas pelo homem mais não é do que uma desculpa para uma sucessão de cenas de pânico entre a população atacada por milhares de abelhas em fúria, que levam à intervenção dos militares, tudo servido por efeitos especiais risíveis.

Foi a ficção científica que forneceu ao filme-catástrofe ecológico um dos seus raros bons momentos, graças a Perto do Fim, de Richard Fleischer (1973), baseado no livro Make Room! Make Room!, de Harry Harrison. Num mundo futuro em que a população disparou, a comida escasseia, as temperaturas subiram a níveis quase insuportáveis, a poluição é generalizada e a água racionada, um homem descobre de que é realmente feita a comida baptizada Soylent Green (título original do filme) que é distribuída às populações, supostamente manufacturada a partir de vegetação oceânica. E recorde-se que a trilogia de culto Mad Max, de George Miller (1979/81/85) decorre após o colapso da civilização, devido ao esgotamento das reservas de petróleo.

Nos últimos anos, e apesar de continuarem a ser feitos vistosos filmes de ficção sobre catástrofes ambientais, caso de Waterworld, de Kevin Reynolds (1995), ou de O Dia Depois de Amanhã, de Roland Emmerich (2004), assistiu-se ao advento do documentário de denúncia e intervenção, cujo paradigma é Uma Verdade Inconveniente, de Davis Guggenheim (2006), veículo para o activismo de Al Gore, e que teve como precursores títulos mais estetizantes do que militantes, como Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio (1982), ou Baraka, de Ron Fricke (1992).

Entre estes documentários contam-se títulos como Earthlings, de Shaun Monson (2003), sobre a industrialização maciça da comida, e The Future of Food, de Deborah Koons Garcia (2004), sobre os alimentos geneticamente modificados; O Pesadelo de Darwin, de Hubert Sauper (2004), que mostra como a introdução pelo homem de um tipo de peixe no lago Vitória, na Tanzânia, causou um desastre ecológico na zona; Crude Awakening - The Oil Crash, de Ray McCormack, Basil Gelpke e Reto Caduff (2006), centrado na sobreexploração do petróleo e numa possível grande crise de energia futura; ou The End of the Line, de Rupert Murray (2009), sobre as espécies de peixe ameaçadas pela pesca intensiva.

E há ainda os muitos documentários chineses, quase todos rodados à revelia das autoridades, em que surgem denúncias dos estragos feitos ao meio ambiente em nome do desenvolvimento galopante promovido pelo actual regime híbrido de comunista e neocapitalista. Os velhos filmes-catástrofe acabaram por se tornar reais" (Fonte:DN)

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